Entrevista Exclusiva: LUIZ ROSEMBERG FILHO O Pensador do Cinema Brasileiro.

A FILOSOFIA DO PENSAR, DO SABER E DA POESIA.
``Verdadeiramente bom só é o homem que nunca censura os outros pelos males que lhe acontecem. O homem é absurdo por aquilo que busca, grande por aquilo que encontra. ´´
Paul Valéry

Criativo, poético e ousado cineasta em atividade no país, Luiz Rosemberg Filho, dirigiu vários longas, curtas e vídeos. Dos longas-metragens, dos quais alguns tiveram problemas com a censura e também algumas produções não tiveram uma distribuição regular. Algumas de suas produções foram Crônicas de Um Industrial (78), Assuntina das Américas (75), Jardim das Espumas (68), Américas do Sexo (67), Balada da Pagina Três (66), Imagens (72), Um Filme Familiar (79), Desobediência (84), Analu (08), A Carta (08), Nossas Imagens (09), Ana Terra (07), Afeto (09), Hollywood, Dinheiro, O Santo e a Vedete, Alice, O Vampiro, Videotrip, Trabalho,Desertos, Sem Título, O discurso das imagens, As útimas imagens de Tebas, dentre outras. Um dos melhores montadores, Ricardo Miranda realizou um curta sobre o Rosemberg, chamado Bricolage(08), as criações de Miranda, estão no afeto e no pensamento, dos mestres como Paulo César Saraceni (A Etnografia da Amizade), Luiz Rosemberg Filho (Bricolage), Gilberto Freyre, José Mojica Marins etc. Luiz Rosemberg Filho atualmente escreve para o site http://www.viapolitica.com.br/, e esta finalizando seu novo filme .``Por que não misturar Oswald de Andrade com Lewis Carrol? Glauber Rocha com Walter Benjamin? Brecht com Godard?. Essa fala esta no livro de Jairro Ferreira (Cinema de Invenção), como Jairro dizia: Rosemberg e um Cinepoeta.´´Poucas pessoas hoje conhecem os filmes de Rosemberg, pois muitos nem ainda foram lançados em DVD, e não teve nenhuma Mostra com seus ilustres trabalhos. Na entrevista, podemos conhecer um pouco deste magnífico cineasta, poético e verdadeiro.

-Por que razão ainda temos que engolir as super produções que tomam 70% das salas de cinema no Brasil?
  Rosemberg: Lamentavelmente o Brasil ainda e um pais ocupado. Obviamente que ninguém diz isso, pois temos uma Constituição permanentemente manipulada por baixos interesses econômicos, políticos e culturais. Aqui, manda o dominador! Sabe-se não e de hoje que algumas famílias que estão a décadas no poder, estão podres, fedem e não prestam. Mas quem consegue tira-las de lá?. Então, e mais normal que tenhamos tudo ocupado. Faz parte do show das nossas elites. Continuamos pensando pelos olhos do outro. Basta ver a programação dos cinemas e das TV´S. Tudo e todos os lixos! Mas um lixo conveniente à manutenção da ordem. Ordem atada aos interesses do capital e do poder. 

-Como o senhor analisa as produções cinematográficas nacionais, atuais? 
 Rosemberg: Hoje faz-se cinema não mais como um investimento na esperança de um mundo melhor como foi o caso de DEUS E O DABO NA TERRA DO SOL, VIDAS SECAS, OS FUZIS e muitos outros. Hoje de um modo geral e meio-bomba e no fundo, no fundo o objetivo e conseguir imitar o cinemao de Hollywood. E o que e o cinemao de Hollywood? Bombas ideológicas de ocupação de corações e mentes. Claro que o cinema e um negocio. Mas não e só isso. Questiono muito esse baixo uso da alienação e do espetáculo. Mas somos ainda hoje, colonizado pelos espelhinhos e quinquilharias de Hollywood. Eu não saio mais de casa para ver SLVE GERAL ou a vida do LULA no cinema filmada pelo Barretinho segundo. Não da mais. Meus olhos não são privadas. Nada contra o Lula, e sim contra o deslavado e o baixo oportunismo no uso da miséria. E vi isso no trailer. Imagina o filme! Querem cultuar o homem como se fosse o novo Stalin. Não da. -Um dos seus filmes iria para o Festival de Cannes na França. Porque houve censura? 
Rosemberg: O pais sempre viveu numa certa overdose direta ou indireta de repressão. Faz parte da nossa formação de colônia. O gozo aqui não e com a vida, mas com uma desqualificação do prazer. Imagina se o regime militar iria enxergar qualidades num filme como Crônica de um Industrial! (foto: cena da atriz Ana Maria Miranda no "Crônica de Um Industrial" (1976) de Luiz Rosemberg Filho) Exigiria da parte deles muitas superações e generosidade. E isso sempre lhes foi muito difícil. Foi mais fácil proibir, interditar, dificultar, torturar e ate matar se necessário fosse. Mas se antes a censura era política, hoje e burocrática e econômica. E sem dinheiro não se filma mais para os cinemas, e sim para idiotismos digitais e celulares. Pena. Mas alguém ganha com isso, e não e o cinema brasileiro.

 -Com o fim da EMBRAFILME, na sua opinião houve mudanças de financiar as produções? 
Rosemberg: O processo de produção de filmes inventivos e ousados, sempre foi piorando. Imagina se hoje iriam produzir filmaços como BANG-BANG ou A$SUNTINAS DAS AMERIKAS? Se antes já era difícil, imagina agora onde só se vislumbra o mercado como a única alternativa possível. Volto a repetir: claro que o mercado e importante, mas não desvinculado das infinitas possibilidades do saber e da poesia. Cinema sem saber ou poesia, vira consumismo barato. E nisso a TV e melhor, pois a sua única preocupação e no aperfeiçoamento da bosta. Fora o rigoroso trabalho do cineasta e diretor Luis Fernando Carvalho na TV, só a hipocrisia prospera como espetáculo da nossa pobreza espetacularizada. Dizem, que e o que vende! Mas não e muito pouco? 

- Hoje há muitas explorações midiaticas. Qual o papel da televisão no Brasil? 
Rosemberg: O de combater todo tipo de sensibilidade ou inventividade. E sem duvida um forte mercado de trabalho, só que movido pela alienação. E ela se articula com o que? Com uma linguagem fascista anexada a religião e ao capital. Nesse casamento de baixos interesses a banalização e a publicidade como plataformas da crueldade. Absoluta no seu domínio, esta transformando tudo e todos num imenso lixão irreversível. E nem adianta salvar A, B ou C, pois a sua pretensão e não mudar nada. Mas a rigor, serve bem aos interesses do poder. Não e da alienação da população que os partidos elegem os seus vagabundos? E estão todos sempre falando abobrinhas na TV. E o ``jornalista´´ com cara de inteligente conduz a ladainha. Haja, saco! 

-Numa entrevista num jornal o professor e cineasta Joel Yamaji disse:`` O Brasil e o pais onde se tem mais festivais de cinema, e onde se tem menos filmes bons´´ . Analisando, podemos dizer que alguma coisa mudou? 
Rosemberg: Eu acho que o problema não são os festivais, mas a picaretagem que esta por trás. Não se tem dinheiro para produções originais e ousadas, mas gaste-se muito com a montagem de tais festivais. Esse dinheiro não seria melhor aplicado na construção de salas para os nossos filmes, em todo pais? O nosso cinema precisa do seu espaço para que se passe a consumir o pais e não o anus de Hollywood, pois aqui só nos chegam pesadamente as bostas coloridas. E não tem fim, ne? Agora, vai exibir um bom filme brasileiro, lá? Ficam nos enganando com a possibilidade de ganharmos um Oscar!
Ta que os filmes enviados são umas bostas. Mas... e preciso mudar a regra do jogo.

-
A atriz ANALU PRESTES participou de alguns trabalhos seus, e recentemente você fez um documentário sobre a sua vida. O que esta a triz representa para você? 
Rosemberg: Analu me será sempre um espaço de múltiplo desdobramentos. Ela não só e uma grande atriz, como artista-plastica, professora, escultora e uma extensão viva do prazer. De todas as pessoas com quem eu já trabalhei, e a mais determinada numa busca da felicidade para todos. O seu principal lance na vida e marcar a sua inquietação com ricas expressões poéticas, criativas e ate políticas. E luz, musica, movimento, cor, cinema, teatro... Trabalhar com ela e definitivamente uma odisséia nos múltiplos espaços do prazer. E sem amanteigar nada. Sua beleza chama-se POESIA! 

- O montador RICARDO MIRANDA fez um documentário sobre a sua vida chamado BRICOLAGE. Você gostou do resultado deste trabalho? 
Rosemberg: O Ricardo talvez seja o nosso único documentarista, que no lugar da frágil apropriação e uso da miséria, filma o afeto transformando-o em múltiplas possibilidades poéticas. Exigindo do outro não um racionalismo articulado empobrecido, mas uma doce extensão do prazer possível. O seu BRICOLAGE e uma espécie de happening dos nossos olhares e sentimentos. Foi uma festa fazê-lo e me possibilitou conhecer a montadora Joana Collier, que e uma espécie de luz-viva do novo milênio. E também uma documentarista originalíssima, pois toca fisicamente e poeticamente nas suas escolhas. E vai fundo. 

- Rosemberg, tem trabalhado com vídeo, colagem e os textos. Nesta construção de pensamentos ainda pensa em fazer algo que ainda não fez? 
Rosemberg: Todo bom cineasta tem muitos projetos que não conseguiu fazer. Mas..., enquanto se e vivo, sonha-se. E e preciso continuar sonhando. Cada filme feito e um sonho que se realiza. Uma grande mulher que se amou. Mas gostaria ainda de filmar algumas peças de teatro para o meu entendimento do mundo, fundamentais. Por exemplo: IVANOV do Tchekov. OS CONVALESCENTES do Jose Vicente. Autores como Qorpo-Santo, Martins Pena, Strindberg, Ibsen... Mas vivo no Brasil, ne? E aqui o referencial e a TV ou o oportunismo na espetacularizaçao da miséria. Completamente diferente de VIDAS SECAS, MATRAGA, OS FUZIS... Então, e ir sendo levado por sonhos proibitivos. Retrabalhando sempre as imensas possibilidades da poesia e da linguagem. DEUS E O DIABO NA TERRA DO SOL continua sendo mais vanguarda que tudo que foi feito depois. Mas têm muitos outros de fundamental importância. 

- Nestes anos o que mais marcou em sua vida? 
Rosemberg: Negativamente o fascismo absoluto que tomou conta do mundo. Essa linguagem empobrecedera fundindo o cinema a TV. As muitas traições na política e na cultura. As televisões nas mãos sujas de quem esta... Já positivamente o reencontro com Matico, na VIA POLITICA. O SERRA DA DESORDEM do Tonacci. O cinema experimental do André Scucato, Marcelo Ikeda, Cristina Pinheiro, Joel Yamaji, Ana Carolina... Uma aproximação afetiva de pessoas fantásticas como o João Lanari, o Hugo Mader, a Bárbara Vida, o Negro Leo, a Maria Eduarda Castro, o Jose Carlos Asbeg, o Arthur Frazao, o Cláudio Temmela, o Victor Gil, o Lupercio Bogea, você mesmo Paulo Aranha... A Lista felizmente e bastante longa.

 - Para você qual e a importância do inicio da carreira para os dias atuais? 
Rosemberg: Lamentavelmente já não vejo mais o cinema como uma atividade do pensamento-profundo. Virou só um negocio que transforma o inferno num negocio rentável. Pouco se sente. Pouco se lê. Pouco se pensa. E pouco se faz de maneira ousada ou original. Os poucos diretores que ainda me tocam fundo como Tonacci, Sindoval Aguiar, Jose Carlos Asbeg, Ana Carolina, Eduardo Coutinho, Joel Yamaji..., foram formados pelo passado. Passaram de pe pelo regime militar, e não se deixaram transformar em múmias empalhadas pela Tv. Da garotada, vejo muito pouca coisa boa. Acho que falta-lhes sonhos, ousadia, linguagem, poesia, radicalismo, generosidade, paixão, transgressão e um verdadeiro pais um pouco alem do que nos mostram os canais de televisão. O digital ajudou a democratizar a produção, mas não a distribuição e a exibição. A tela-grande continua sendo propriedade do pior cinema americano, de todos os tempos. E, no entanto, todos na esperança de um Oscar ou de um dia ``filmar´´ em Hollywood calam-se diante de múltiplas traições. Se contentam em ganhar`` prêmios´´ duvidosos e passar seus filminhos em celulares ou na TV, recebendo pouco ou nada por isso. E preciso que o cinema assuma a grandiosidade desse nosso pais! Ou já não e mais nosso?

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